Polipropileno – Avanços Tecnológicos Sustentam Demanda em Alta e Impulsionam Ampliações da Resina e do Composto

Com taxas de crescimento anuais em torno de 7% no mundo e algo entre 8% e 10% no mercado brasileiro, o polipropileno se destaca como uma das resinas mais bem-sucedidas da indústria do plástico. Levantamento preparado pela Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas da Associação Brasileira da Indústria Química (Coplast / Abiquim), do consumo aparente brasileiro no primeiro trimestre do ano, mediu um volume de 314 mil toneladas de resina, alta de 8% sobre igual período de 2007. Na evolução de janeiro a abril, dados preliminares registram um consumo total de 404 mil toneladas.
Não por acaso, os dois fabricantes locais ostentam investimentos em ampliação. Líder, a Braskem inaugurou em abril uma unidade de 350 mil toneladas/ano em Paulínia-SP. O projeto absorveu recursos da ordem de R$ 700 milhões e elevou a capacidade de produção da empresa, só de PP, para 1,2 milhão de toneladas/ano.
Sua concorrente, a Nova Petroquímica (nome provisório da Suzano após sua incorporação pela Petrobras) desembolsou US$ 80 milhões em um programa de ampliação que contemplou um aumento recente de 100 mil toneladas por ano em sua unidade de Duque de Caxias-RJ e vai reverter, ainda neste ano, na expansão da planta de Mauá-SP, de 360 mil para 450 mil toneladas/ano. Até lá, as três instalações da companhia (outras 125 mil t/a em Camaçari-BA) estarão aptas a processar um total de 875 mil t/a de PP.
Além de ampliar a oferta do produto, os investimentos reverteram em mudanças no processo de polimerização com o uso de catalisadores de última geração na unidade de Duque de Caxias. Com a modernização, a Nova Petroquímica ganha maior flexibilidade no desenvolvimento de grades, restrito até então à fábrica de Mauá, e incrementa seu portfólio de produtos.
Não faltam motivos para justificar tantos investimentos na resina, que possui uma das relações custo/benefício mais vantajosas. Sua principal característica intrínseca, a baixa densidade, traduz-se em maior rendimento por volume adquirido, sinônimo de produtividade para o transformador. Ela ainda incorpora um dos melhores equilíbrios das propriedades de rigidez e impacto. Formulado em compostos, o polipropileno possibilita a agregação de vários tipos de cargas e aditivos e exala particularidades capazes de deslocar plásticos de engenharia em aplicações de alto rigor técnico, como aquelas exigidas pela indústria automobilística, uma das principais consumidoras dessas receitas. Ainda está sujeito a moldagem em todos os processos de transformação.
Por trás de tamanha versatilidade, a indústria se move freneticamente em duas frentes. Na ala das resinas, a corrida visa melhorar ainda mais o equilíbrio de suas propriedades de rigidez e impacto, aumentar a fluidez (sinônimo de ciclos mais rápidos) e alcançar alta transparência, brilho e barreira, requisitos cada vez mais solicitados, em especial pelas indústrias de embalagens rígidas e flexíveis.
No caso dos compostos, cuja produção abastece quase que inteiramente o setor automotivo, a meta é alcançar maior capacidade de absorver impactos, permitir aos projetistas elaborarem desenhos mais complexos, além de dar às peças moldadas maior estabilidade dimensional, melhor qualidade superficial e facilitar a pintura. Ainda embrionária no país, a nanotecnologia sinaliza o potencial para sustentar boa parte dessa evolução, tanto em resina quanto em compostos.
A Passos Lentos
O transformador brasileiro conta com nanocompósitos de PP desde o final de 2006, quando a Braskem e depois a Suzano Petroquímica anunciaram os lançamentos, quase que simultaneamente, com muita pompa e circunstância.
O nanocompósito de PP da Braskem (aditivo com nanopartículas de argila) supera a resina convencional em resistência química, térmica e mecânica, e em sua capacidade de barreira a gases, além de oferecer outras vantagens. Para o transformador, esse avanço significa a possibilidade de produzir embalagens "inteligentes", produtos mais leves, desenhos mais ousados e peças com melhores propriedades.
Fittipaldi: crescimento de PP em carros é significativo
Enquanto vende produtos formulados com nanopartículas de prata, com ações bactericidas e fungicidas, a Nova Petroquímica prepara o lançamento de duas novas linhas nanoestruturadas. Em estágio avançado de desenvolvimento, elas devem chegar ao mercado nos próximos seis meses. Uma delas promete alta resistência mecânica e ao risco, requisitos altamente demandados pela indústria automotiva; a outra, propriedades retardantes de chama. A destinada aos automóveis deve modelar peças estruturais e semiestruturais, como painéis, consoles, portas internas, capô do motor, dutos de admissão, entre outras, informa o gerente de marketing, Sinclair Fittipaldi.
O mercado automobilístico é um dos principais consumidores da companhia. O gerente estima fornecer cerca de 55 mil toneladas por ano apenas para essa indústria, volume equivalente a entre 8% e 10% das vendas ao mercado interno. "O crescimento do setor é significativo. O plástico compõe cerca de 25% do carro e, nessa composição, o PP representa 58%", calcula Fittipaldi. O polipropileno está dando grandes passos, em competição muito próxima com os plásticos de engenharia.
As demandas do mercado convergem em quatro pontos, segundo avaliação do gerente da Nova Petroquímica: preço competitivo e desempenho, essas duas variáveis alinhadas; ganho em competitividade; e logística, que, na opinião do gerente, pode constituir um diferencial competitivo.
Inseridos no contexto das eternas perseguições do polipropileno, os desenvolvimentos da Nova Petroquímica incluem copolímeros randômicos aditivados com a última geração de agentes clarificantes da série Milliken NX 8000, que resultam em produtos da mais alta transparência (família Luzz); e polipropilenos com maior resistência à barreira. O hiper clarificante garante 50% a mais de transparência em relação ao PP com o agente convencional, entre outros benefícios (veja PM 401, março de 2008, p. 13). A melhoria da barreira é uma conquista a ser alcançada através da nanotecnologia e continua em fase de desenvolvimento, com promessas de chegar ao mercado dentro de dez meses, sob a marca Diya.
A pesquisa de laboratório também envolve um projeto maior, impulsionado pela onda "verde" que se espalha pelo país. A Nova Petroquímica planeja produzir propileno derivado de glicerina residual de biodiesel. O processo, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi patenteado com titularidade conjunta.
O cronograma prevê a conclusão de uma planta piloto até o segundo semestre de 2009 e entrada em estágio comercial até 2014. A unidade em escala laboratorial deve absorver recursos estimados em US$ 25 milhões. As proporções comerciais devem receber o dobro de investimentos. "A ideia é produzir 100 mil toneladas/ano de polipropileno com propileno obtido de fonte renovável", informa o gerente de tecnologia, Pedro Boscolo. Inicialmente, a novidade deve cobrir 10% do negócio.
Assim como o polietileno fabricado com etileno derivado da rota álcool-química, o polipropileno polimerizado com propeno da glicerina residual de biodiesel tem a mesma estrutura molecular do PP produzido via rota petroquímica. A vantagem é ter matéria-prima retirada de fonte renovável.
Endereço Único
Os dois maiores fabricantes de compostos de polipropileno instalados no país, a Basell e a Borealis, ambos grupos transnacionais, concentram seus negócios nas mãos de um mesmo segmento de mercado: o automotivo. Para a primeira, ele representa 90% do negócio e para a outra, 80%. A diferença, no caso da Borealis, vai para a linha branca e, no caso da Basell, eletrônicos e outras aplicações especiais.
Liane: substituição de materiais é o maior desafio
A soma da capacidade instalada das duas, de 109 mil toneladas por ano, hoje supre as necessidades de seu principal mercado, que consome algo em torno de 100 mil toneladas/ano, segundo estimativas de um de seus fornecedores. Ambas, porém, estão tocando projetos de expansão que darão novo fôlego à oferta e ao crescimento esperado na produção de automóveis.
Parceira da Nova Petroquímica, a Basell lança em setembro uma nova linha que elevará a capacidade das atuais 60 mil t/ano para 80 mil t/ano, todas concentradas em Pindamonhangaba-SP, onde também operam o centro de desenvolvimento e laboratórios. O investimento atinge US$ 8 milhões. "A produção brasileira de compostos de polipropileno atende à demanda atual e até as projeções de crescimento para 2012, com previsão de 5 milhões de carros", acredita o gerente de negócios e desenvolvimento da Basell, Ricardo Souza.
A Borealis adquire a resina da Braskem, que detém 20% do primeiro negócio no Brasil, e opera duas linhas que, somadas, atingem o limite de processamento de 49 mil toneladas por ano. A instalação de uma terceira linha, de R$ 18 milhões, prevista para começar em outubro, elevará o volume para 60 mil toneladas/ano. A empresa já possui outro projeto de expansão de 10 mil t/ano. A capacidade atual se distribui em Triunfo-RS (25 mil t) e Itatiba-SP (24 mil t).
A terceira linha será agregada a essa última unidade. Trata-se de uma extensão da planta existente, ampliada com uma nova linha de extrusão adquirida da alemã Werner & Pfleiderer. "É um investimento de longo prazo e precisa ser da mais alta tecnologia para atender às demandas do mercado", informa Liane Lanzoni, diretora de marketing, vendas e desenvolvimento da Borealis.
Bahls: composto é desenvolvido sob medida
E por falar em requisitos, se a indústria de embalagens persiste devido à sua alta transparência e, em segundo plano, uma barreira, a de automóveis entrou em uma corrida desenfreada para reduzir o peso dos veículos, o que implica autopeças mais leves. Nos carros, resulta em maior eficiência e menor consumo de combustível.
Além do alívio no peso, os fabricantes de compostos têm se desdobrado no desenvolvimento de formulações para atender ainda outras imposições de seu grande cliente: maior resistência ao risco e aos raios ultravioleta, baixo brilho, menor emissão de voláteis, e até menos odor e efeito de embaçamento. "Existem vários produtos para atender essas propriedades, quase 100% feitos sob medida. A montadora envia as especificações e desenvolvemos o composto de acordo com aqueles requisitos. Não se pode aproveitar o desenvolvimento de uma montadora em outra, pois cada uma possui seu próprio conceito, mesmo para o mesmo grupo de propriedades", declara o gerente de marketing da Borealis, Daniel Bahls.
No centro de desenvolvimento da Basell, as formulações visam uma combinação equilibrada de rigidez e impacto com um índice de fluidez mais alto, que permite a produção de peças de desenhos mais complexos e com ciclos de injeção mais curtos – sinônimo de maior produtividade. As peças se tornam mais leves e o designer ganha maior flexibilidade no desenho. "A relação rigidez/impacto busca peças com espessuras cada vez mais finas, e isso está diretamente associado a uma maior fluidez, porque se você não tem fluidez, não consegue preencher o molde", explica Souza.
