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Embalagem para Alimentos: Perfil de Compra do Brasileiro Mudou e Obrigou a Indústria do Plástico a Inovar

Embalagem para alimentos: Perfil de compra do brasileiro mudou e obrigou a indústria do plástico a inovar

A grande maioria de produtos comercializados em supermercados não possui suporte de comunicação. Esse dado, por si só, revela o quanto a embalagem pode ser importante para o setor de alimentos, em especial o plástico. As características da resina a tornam ideal para injetar competitividade no mercado alimentício, principalmente porque a embalagem, hoje, vai além da proteção, preservação e distribuição.

Não é à toa que a indústria de alimentos é a principal consumidora de embalagem flexível; e a categoria de bebidas sensíveis, como o leite UHT (Ultra High Temperature), ou seja, Ultra-Alta Temperatura, apesar de ser o reduto dos cartões, está inclinada a adotar o polietileno tereftalato (PET) como opção. O perfil de compra do consumidor mudou. Para acompanhar esse ritmo, a indústria de embalagens para alimentos investe em inovação: aperfeiçoando processos, desenvolvendo novas matérias-primas e lançando tendências.

Que Caminho Seguir

"Vemos uma nova forma de comprar", comenta Claire Sarantópoulos, engenheira do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea). O perfil socioeconômico do país mudou. O poder de compra do brasileiro aumentou, e por causa disso o consumo de alimentos também. O Brasil viu surgir uma nova classe média e um maior grau de exigência em relação aos alimentos. O que se vê são novos interesses emergindo.

O Ital, não por acaso, criou o Brasil PackTrends em 2008. A ideia era entender os principais fatores de impacto e tendências para os próximos anos, de modo que isso ajudasse as indústrias de alimentos/bebidas e embalagens a serem mais competitivas. A versão mais recente deste documento foi apresentada por Claire durante o PETtalk 2013, a Conferência Internacional sobre a Indústria do PET, realizada e organizada pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), em junho deste ano, em São Paulo.

Na ocasião, ela revelou alguns dos caminhos que o setor seguirá. Segundo Claire, o instituto diagnosticou cinco macrotendências, e as categorizou da seguinte forma: estética e identidade; conveniência e simplicidade; qualidade e novas tecnologias; sustentabilidade e ética, e segurança e questões regulatórias. Algumas dessas tendências, ela apontou como grandes oportunidades para a indústria do plástico, como o PET na categoria de estética e identidade.

O novo comprador tem necessidade de luxo e sofisticação e, portanto, ela previu uma inclinação para o aumento do consumo de produtos com alto valor agregado. "O consumidor quer uma experiência agradável; estamos falando de diferenciação, ele quer se sentir diferenciado", comenta. Ela cita garrafas de PET para água de marcas premium como Crystal. "Essa resina é o nosso diamante plástico", diz. A propósito, entre as principais propriedades do PET estão alta transparência, barreira a gases e resistência mecânica. O processo de injeção-estiramento-sopro, ao qual a resina é submetida na fabricação de embalagens, promove a bioorientação molecular, o que contribui para aumentar suas características físicas e de barreira.

A Transparência é Mágica

De fato, a transparência está cada vez mais em alta. A sensação de segurança transmitida ao consumidor – ele quer ver o conteúdo da embalagem – garante a preferência. Como explicado pelo especialista em design e embalagem Fabio Mestriner, a onda de embalagens transparentes vem ganhando força, e as empresas que buscam inovação e personalidade para seus produtos devem estar atentas às novas possibilidades estéticas dessa característica. "A transparência é mágica", ele aponta.

Segundo pesquisa divulgada por Claire, o consumidor também valoriza a conveniência e simplicidade. A pesquisadora diz que a embalagem precisa ser fácil de abrir, de carregar e ter o atributo de portabilidade – o produto deve permitir seu consumo em qualquer lugar e a qualquer momento. Nesse sentido, Mestriner propõe uma nova aplicação para o PET em âmbito nacional. Ele dá o exemplo dos Estados Unidos, onde há lanches em embalagens feitas com essa resina. "É uma versão para viagem, para comer sem se sujar". O produto se assemelha a pequenas garrafas de iogurte, que permite aos consumidores ingerir o conteúdo sem alcançá-lo com as mãos.

Outra tendência anunciada inclui a necessidade da indústria de oferecer embalagens ativas e inteligentes ao consumidor. Em geral, o primeiro tipo melhora e mantém a qualidade e segurança do alimento por meio de sua interação com o produto ou o ambiente, enquanto o tipo inteligente é aquele capaz de trazer informações ao consumidor sobre as condições do produto embalado. "As garrafas com absorvedor de oxigênio e as embalagens com indicador de temperatura e localização com a etiqueta RFID (Identificação por Radiofrequência), por exemplo, estão incluídas aqui", diz Claire, entre o que há de novo nesse sentido.

Inovação: A Palavra de Ordem

Para Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), inovação é a palavra de ordem para o setor. Mesmo assim, novas aplicações e projetos diferenciados orientam os desenvolvimentos da indústria de embalagens para alimentos. Marçon vê a matéria-prima como um ponto importante nesse sentido, e comenta sobre a novidade de um dos três maiores fabricantes de resinas PET do mundo, Mossi & Ghisolfi (M&G). Trata-se do Proesa, um desenvolvimento recente da empresa para a produção de etanol a partir de biomassa. A GraalBio fechou um acordo com a Beta Renewables, uma joint venture formada pela Chemtex, subsidiária do grupo italiano M&G desde 2004, para produzir, em Alagoas, etanol celulósico em escala industrial, baseado na tecnologia Proesa.

Outra inovação apontada por Marçon explica a linha Lactra, da ColorMatrix – uma família de aditivos líquidos para embalagens de PET projetados para aumentar a vida útil dos produtos. A ColorMatrix, uma empresa do grupo Polyone, desenvolveu uma tecnologia para embalagem de leite e produtos lácteos, cujo princípio é garantir proteção contra a fotodegradação. O aditivo pode ser incorporado em embalagens monocamada ou multicamada, e aplicado a peças brancas.

Marçon também fala sobre inovação no campo da transformação. "Nossa embalagem (PET) tem um longo caminho a percorrer; precisa investir em design", diz. Para ele, além dos setores tradicionais, como refrigerante, água e óleo, a associação tem como alvo outras áreas. Como nova aplicação para a resina, destaca o mercado lácteo. "Esse segmento está chegando ao Brasil", diz.

A resina PET tem forte presença no mercado de refrigerantes, com uma participação de 58,3% no setor. Em seguida vêm a água mineral (16,5%) e o óleo de cozinha (10,7%). O restante é dividido entre suco de frutas (1,12%) e outros (13,38%).

PET no Leite: Uma Oportunidade Crescente

A inovação se dissipa em várias frentes. Uma das oportunidades que vem sendo anunciada há algum tempo para o PET é no envase de leite UHT. Este é o nome dado ao processo de ultrapasteurização, ao qual o leite é submetido, caracterizado por seu aquecimento a temperaturas entre 130°C e 150°C, por dois a quatro segundos, seguido de resfriamento a temperaturas abaixo de 32°C. Para Ayrton Irokawa, gerente de vendas de máquinas na Krones do Brasil, a aplicação pode ir além, cobrindo outros tipos de bebidas consideradas sensíveis, como sucos, chás, água de coco e smoothies.

Seguindo a rota de produtos saudáveis (aqueles que não requerem o uso de conservantes), a Krones também aposta no FlexiFruit ou envase com pedaços de frutas. É um sistema de pré-dosagem para sucos ou bebidas lácteas misturadas com pedaços de frutas. O suco ou bebida láctea é submetido ao seu próprio processo independente, enquanto os pedaços de frutas com tamanhos de até 10x10x10 mm são pasteurizados em um trocador de calor. A separação e tratamento consequentes das bebidas também são aplicados posteriormente no processo de envase com o sistema de pré-dosagem usando um pré-enchedor FlexiFruit para pedaços de frutas ou polpa. No sistema de pré-dosagem, pedaços de frutas ou polpa com uma pequena quantidade de suco chegam primeiro às garrafas; e então o enchedor principal adiciona o suco ou bebida láctea, fazendo a mistura dentro da própria garrafa. A tecnologia se aplica a ambos os processos, frio ou quente.

No caso do leite, a Krones indica o envase a frio. "O leite tem uma sensibilidade muito alta, e envasá-lo a 80°C e 90°C não garante a segurança microbiológica do produto", alerta Irokawa. A empresa, além disso, tem em seu portfólio tecnologias para envase asséptico frio e quente. Se for frio, há o sistema com peróxido de hidrogênio (processo seco), e o mais vendido, com ácido peracético, conhecido como processo úmido.

Segundo Irokawa, embora o processo de ácido peracético seja mais amplamente aceito hoje, a tecnologia seca tende a crescer também. "Acreditamos que essa solução ganhará seu espaço, especialmente para produtos lácteos, já que a maioria dos clientes já tem experiência no manuseio de peróxido neste setor", ele aponta. Quando o pH tende à neutralidade (como é o caso do leite), o envase torna-se mais complexo em condições assépticas, mas esse não é o problema. Na opinião de Irokawa, um grande desafio para o crescimento deste mercado é superar o alto investimento nesta tecnologia. "No entanto, a Krones está cada vez mais se preparando para poder ter uma forma de negócio interessante para nossos clientes", anuncia.

De qualquer forma, o envase asséptico a frio (em PET) pode ser considerado uma tendência, pois é uma solução mais saudável, ao dispensar o uso de conservantes. A propósito, a Krones do Brasil introduziu a primeira linha para envase asséptico a frio de PET no país. Está instalada em uma fábrica da Nestlé, em Araçatuba-SP, para a produção da linha Fast, dos produtos Nescau, Neston e Alpino.

A tecnologia de envase asséptico não é, no entanto, uma novidade para o mercado mundial, mas aqui ainda é uma área em desenvolvimento. Sua difusão, talvez devido à baixa escala de uso, ainda não é significativa e está restrita a casos isolados. "A limitação é seu custo", resume Hiroyuki Matsui, da Plusmach, uma empresa que representa o Aoki Technical Laboratory no país, e a Xenos. Essas duas empresas participaram do projeto Fazenda Leitíssimo, um exemplo nacional de embalagem asséptica de PET. A Xenos fabrica máquinas de envase a frio; e a Aoki, os sopradores para a produção de garrafas de PET.

O leite UHT Leitíssimo é embalado na própria fazenda, localizada na Bahia, e tem o apelo de marca premium. Esse desenvolvimento começou há dez anos e absorveu um investimento de R$ 5,5 milhões, com equipamentos, infraestrutura e gado. "É uma garrafa de PET comum, nada especial; e o bloqueio de luz, necessário para o leite UHT, é dado pela etiqueta de manga", explica Matsui.

Mercado de Embalagem Flexível

O mercado de embalagem flexível tem tradicionalmente a indústria de alimentos como seu principal consumidor, mas mesmo com o apoio desse grande volume esta indústria não foi aliviada. O cenário está nebuloso. Dados da Maxiquim mostram que, em volume, houve um crescimento modesto em 2012 – o setor avançou 1,9%; enquanto o valor de produção aumentou 7,5%. Um dos gargalos foram as importações de produtos acabados – em valor, cresceu 11,5%; e em volume, 12,8%.

Mesmo para reverter essa situação e injetar mais competitividade no setor, a Associação Brasileira da Indústria de Embalagem Flexível de Plástico (Abief) promoveu, em São Paulo, em junho, o fórum "Como fazer – e pensar – diferente na indústria de transformação: novos negócios, estratégias e cenários". O nome é sugestivo e anuncia um caminho para o mercado: investir em inovação.

O "novo", da perspectiva de Carlos Catarozzo, executivo de vendas e marketing da UBE Latin America, está no uso de materiais de alto desempenho, como o terpolímero Terpalex (Co PA 6/6.6/12) como alternativa ao PVdC (policloreto de vinilideno). Esse desenvolvimento da UBE propõe atender ao mercado de carnes e queijos. Apesar de admitir que a vida útil do PVdC é mais longa do que a da poliamida, as características do nylon garantem uma série de vantagens capazes de superar essa desvantagem em relação ao material concorrente. O terpolímero oferece transparência e, acima de tudo, resistência, pois pode até embalar carne com osso.

Para embalar a carne, a estrutura sugerida é composta de Evoh (copolímero de etileno e álcool vinílico), para garantir a barreira a gases, odores e sabores; nylon, para garantir resistência mecânica; e poliolefinas, para suprimir a umidade; além do adesivo.

A inovação também está nos processos. O executivo cita o sopro de ar (balão soprado) de até onze camadas, como exemplo. A estrutura básica compreende cinco camadas, mas a mais usual é a de sete camadas. "A tendência é usar treze camadas", ele observa. Essa tecnologia, segundo ele, também possibilita operar com pequenos lotes, o que facilita a produção de volumes menores, atendendo demandas específicas. "Estamos falando de um mercado de alto desempenho", diz Catarozzo.

Apesar de estar disponível no país há cerca de cinco anos, o Terpalex ainda é um negócio em desenvolvimento. Produzido no Japão, o material esbarra na tradição da indústria de alimentos. "Esse mercado precisa entender que embalagem não é um gasto, que agrega valor ao alimento", comenta Catarozzo. Esse terpolímero é cerca de 10% mais caro que o PVdC.

De qualquer forma, as perspectivas para esse tipo de produto são positivas. Não por acaso, segundo o Brasil PackTrends 2020, o consumo de embalagem flexível tende a crescer. Será impulsionado, entre outras categorias de alimentos, por perecíveis, como queijos, carnes e embutidos.

As projeções mostram que o consumo de embalagem de alimentos, em relação ao flexível, somará US$ 4,8 milhões em 2015; enquanto o rígido (soprado e injetado) será da ordem de US$ 4 milhões.

Embalagem no Mundo

O plástico detém uma boa fatia do mercado nacional de embalagens – juntos, rígido e flexível, somam 49%, segundo o Brasil PackTrends 2020. Essa participação vem em uma curva ascendente. O setor de embalagens plásticas cresceu entre 2007 e 2011, em valor (US$), 7,9% ao ano; e 4,8% em volume. Segundo documento do Ital, entre os principais consumidores estão os mercados de biscoitos, ração animal, refrigerantes em pó, café e salgadinhos. Até 2015, a previsão é de um aumento de mais de US$ 3 bilhões, em comparação com os dados de 2011. Isso é bom, e tem apoio internacional. Daqui a dois anos, a participação do país no mercado global de embalagens também tende a aumentar. As vendas – de US$ 25 bilhões (dados de 2011) – devem subir 4%.

Os Estados Unidos e a China permanecem como as duas maiores indústrias de embalagem. Do total, os segmentos de alimentos (51%) e bebidas (18%) respondem pela maior parte do mercado, quase 70%; e, segundo especialistas, a indústria de alimentos deve consumir ainda mais. Entre 2011 e 2015, em valor, espera-se um aumento de 4,4% ao ano.

O mercado de alimentos é um setor em expansão. Somente em 2010, segundo o Ital, mais de 100 mil produtos foram lançados, equivalente a um aumento de 4,3% sobre o ano anterior. A tendência, segundo o estudo, é aumentar a demanda por alimentos saudáveis, leves, frescos, naturais e orgânicos.

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